Na reunião de cúpula que o G-5 terá hoje com os chefes de Estado do G-8, no Japão, o presidente Lula vai repelir o jogo protecionista de líderes da União Européia para os quais o etanol brasileiro, além de nocivo ao meio ambiente, é produzido com o concurso de mão-de-obra semi-escrava.
Por aí se vê que, entre os biocombustíveis, o etanol daqui continua na condição de alvo preferencial. É o produto que mais ameaça tanto a indústria do petróleo como a do etanol de cereais nos Estados Unidos e na Europa. E, enquanto o etanol brasileiro permanecer na berlinda, o biodiesel ficará meio esquecido, sem necessidade de que o governo saia em sua defesa.
O problema do biodiesel não são os predadores externos. São os fundamentos do mercado num ambiente em que os preços da matéria-prima disparam no mercado internacional. Se tivesse de competir com o óleo diesel, cujos preços internos estão subsidiados, estaria na pior. No entanto, hoje tem de entrar na mistura com ele à proporção de 3 litros para cada 97 (até junho eram 2%), o que garante uma demanda interna de 1,2 bilhão de litros em 12 meses. Para suprir essa procura, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) faz leilões periódicos de compra. Entrega o produto quem oferece o menor preço.
Enquanto o etanol brasileiro permanecer na berlinda, o biodiesel ficará meio esquecido, sem necessidade de que o governo saia em sua defesa.
Tecnicamente, basta contar com gordura (vegetal ou animal) para que dela se possa obter biodiesel. No entanto, até agora, apenas o óleo de soja mostrou volume suficiente para garantir escala de produção. Alguns produtores ainda obtêm biodiesel de sebo animal, óleo de dendê, de girassol ou de canola. Mas enfrentam falta de competitividade.
O biodiesel de soja está às voltas com problema de custo da matéria-prima (veja o gráfico). "Em 2005, a tonelada de óleo de soja saía por R$ 1 mil. Hoje, vale, na média, R$ 2,5 mil", relata Miguel Biegai, analista de mercado de bioenergia da Safras & Mercado.
Essa situação inverteu a equação de custos. Em 2005, o fabricante podia contentar-se com R$ 1 mil por tonelada. Hoje, tem de pedir R$ 2,5 mil. Há três anos, o litro de óleo diesel alcançava na refinaria R$ 1,22, e o do biodiesel saía por R$ 1,00. Hoje, o diesel está a R$ 1,33, enquanto o biodiesel está a R$ 2,69.
Nos leilões do ano passado, cujas entregas estavam previstas para até julho deste ano, o preço médio pago pelo litro de biodiesel chegou a R$ 1,86, o que fez com que os produtores trabalhassem com margens negativas. Esse cenário levou ao não-cumprimento de muitos contratos, sem que houvesse qualquer tipo de punição. "Esses mesmos produtores entraram novamente nos leilões e ganharam novos contratos", observa José Carlos Hausknecht, da MB Agro.
O pior momento, para os analistas do setor, foi em março deste ano, quando a tonelada do óleo de soja tocou os R$ 3 mil. "Alguns produtores, que já tinham experiência no esmagamento de grãos, recorreram ao mercado futuro para compras antecipadas (hedge). Mas a maioria não o fez", afirma o analista da Safras.
"Sem suporte oficial, o biodiesel não anda sozinho, e isso é assim aqui e no resto do mundo", adverte Hausknecht. A esperança é que chegue logo o dia em que o biodiesel dispense esse andador.
Confira
Nada além - O comunicado do Grupo dos Oito (G-8) não adiantou nenhuma providência prática destinada a derrubar os preços do petróleo, dos alimentos e das commodities metálicas.
Revelou "forte preocupação" com a escalada, porque sabota o crescimento econômico e, no caso dos alimentos, pode atirar milhões de pessoas à fome.
O resto foram sugestões para que sejam incentivados investimentos que garantam aumento da produção e do refino de petróleo. Por enquanto, foi o suficiente para derrubar os preços do petróleo, que ontem caíram 3,8%. Falta saber até onde vai a força das palavras.
Celso Ming